
Philip Anselmo relata como é ser viciado
Em 16 de março de 2009, o ex-PANTERA e atual vocalista do DOWN, Philip Anselmo, falou de maneira emocionada e sincera sobre sua carreira musical e seu envolvimento com as drogas – e seus perigos – em uma palestra na Loyola University em Nova Orleans, Louisiana (EUA).
A seguir, vários trechos da seção de perguntas e respostas, que foram transcritos pelo BLABBERMOUTH.NET.
Se foi sua força de vontade que o fez parar de pegar a agulha ou parar totalmente de se drogar:
Anselmo: “Essa é uma pergunta difícil. Quando você fecha a porta e espeta a agulha, a heroína passa a ser a grande controladora de tudo – de cada porcaria que você faz. Sua maneira de dormir, sua maneira de acordar de manhã e esticar seus braços pateticamente pra pegar a sua primeira dose do dia e poder sair da cama. Resumindo, isso é a heroína... Quando digo que ela controla tudo, quero dizer tudo mesmo. As pessoas pensam que analgésicos e coisas do tipo somente amortecem a dor?! Se você tomar por muito tempo, eles começam a amortecer suas emoções, cara. E, quando suas emoções estão amortecidas, você fica sob controle. Aquilo te pegou. E passa a ser a coisa mais importante da sua vida, seja aquela pequena pílula ou aquele pó esquisito. E você começa a pôr em jogo sua família, seus irmãos e suas irmãs, os irmãos e irmãs que você chama de amigos nas ruas – amigos de longa data – você os ataca pelas costas, você parte seus corações e nem percebe”.
“Você não fica alto mais. É o medo que te controla. Porque quando você começa a perseguir o próprio rabo... Há duas questões aqui. Especialmente quando você é um músico, quando você começa alguma coisa – uma banda; algo que vem do seu coração, algo que é orgânico, de você – e eu tive sorte suficiente para chegar ao sucesso... Não acredito em sorte; eu quebrei minhas costas por aquilo em que acreditava. Eu derramei meu sangue pela música, cara.
Mas a heroína... quando digo que ela controla tudo, eu não estava mais cantando sobre níveis de confiança e poder e andar [N.: Referência à músicas ‘A New Level’ e ‘Walk’ do álbum ‘Vulgar Display of Power’] e todas essas músicas que falam de coisas positivas, eu estava na verdade cantando sobre o pó. Isso aparece até mesmo nas suas letras, cara; aparece na sua música. Você ouve depois e pensa: ‘Meu Deus!’ Você se perdeu. É, se perdeu mesmo. Você persegue o próprio rabo. É o medo. O drogado tem medo do mal-estar, da síndrome, porque a síndrome de abstinência não é nada divertida, mano. É terrível.
E a única coisa que acaba com tudo isso é mais droga. A menos que você seja esperto o suficiente – como eu era – e comece a tomar metadona. Depois que você começa a tomar metadona, a coisa acaba pra 90% das pessoas. Eles seguem a vida acordando à 9 da manhã, vão até a clínica que fornece a metadona, tomam sua dose e vão cuidar da vida. E o que acontece quando o [furacão] Katrina ataca e as clínicas de metadona fecham as portas? Vou te dizer o que acontece. Você acaba usando o pior desintoxicante – um desintoxicante que debilita você... Eu tinha um amigo que foi preso durante o Katrina e ele estava usando... qualquer miligrama... Não importa quantos miligramas você usa; você usa. Ele teve que se desintoxicar na prisão, ele estava simplesmente patético, tiveram que colocar ele numa solitária – longe dos outros presos.
A única maneira pela qual consigo descrever a abstinência de metadona é comparar com cair de um prédio de 50 andares a cada três minutos de sua vida. Cada três minutos de sua vida é algo terrível. É por isso que as pessoas não conseguem largar. Entende? É o medo... Quando você começa a perseguir seu próprio rabo, não importa o quanto você foi grande, o quanto você é grande, ou o que você pensa... não importa o que as revistas dizem, não importa o que seus fãs dizem; o que importa é o que se passa com você. Há duas situações: alto e doente. Alto e doente. O que acontece nesse intervalo? Hã? Porra nenhuma. Zero. Como quando você está na estrada, como eu, e você precisa ficar em frente de 20.000 pessoas e se fazer de bobo alegre. E ser julgado pelo que sai impresso – sua vida toda. Um tipo de microcosmo em alguma porcaria de revista de metal de páginas reluzentes. Mas isso não é o seu epitáfio, mano. Isso não é o seu epitáfio, senhores e senhoras. De jeito nenhum”.
Há quanto tempo está limpo:
Anselmo: “Limpo é uma palavra dura” [O entrevistador explica: “Quando foi a última vez que você pegou uma agulha?”]. “Essa é uma história pesada. Foi com um amigo meu. Eu estava em casa com a droga. Foi em 2002 ou 2003... Não vou tentar adivinhar, mas acho que foi mais ou menos nessa época. E esse amigo meu, costumávamos fazer a festa nos bons tempos – injetar o tempo todo. Esse cara estava mais pra um seguidor. Cara esperto. Extremamente talentoso. Bem, eu e ele estávamos juntos, correndo na estrada – uma estrada escura em Louisiana a caminho de um show. E havia dois caras na frente, um dirigindo. E ele me diz: ‘Cara, eu queria farrear hoje à noite’. E eu estava lá pensando comigo mesmo: ‘Uau, já faz um bom tempo, cara. Tem certeza? Tem certeza?’ ‘Sim, tenho certeza’. Então, sendo o gênio da medicina que eu era naquela época, eu dei a ele o que eu chamaria de ‘dose de mocinha’ – só um pouco, uma dosezinha. E injetei nele. Aí perguntei pra ele: ‘Como você está se sentindo, mano?’ E ele disse [falando devagar]: ‘Bom, cara’. Alguém no banco da frente fez uma pergunta – assim, rápida – me virei, respondi, virei de volta e o cara estava duro, seus olhos estavam fechados e seus lábios estavam assim [apertando os lábios], rígidos. E eu disse: ‘Ei!’ Chamei seu nome várias vezes. Nenhuma resposta. Boom. Fiquei apavorado. Segurei o cara, e ele estava rígido, como se estivesse com rigor mortis. E segurei ele, chacoalhei, chacoalhei, puxei sua barba, esbofeteei ele, peguei gelo, abaixei sua calça e joguei o gelo nela. O meu amigo, que eu conhecia desde os 16 anos, estava tendo uma overdose. E não havia nenhum hospital! Estávamos correndo por estradas pouco movimentadas de Louisiana. Olhei ao redor e fiquei apavorado. Eu não sabia pra onde mandar os outros caras dirigirem e meu amigo, ele estava morto. Eu me apavorei e comecei [dando socos] bem no seu peito. Boom. Seus olhos se abriram. Uma pupila estava virada para um lado e a outra para o outro – como no ator Marty Feldman.
Eu estava com medo, cara. Ele ainda não tinha voltado a si; ele parecia doido. Fiquei pensando em dano cerebral, retardamento... Eu não sabia o que estava acontecendo com ele, então bati nele de novo. Aí seus olhos voltaram ao normal. Eu pensei: ‘Meu Deus’. Fiquei acordado com ele a noite toda. Ele estava sonolento. Ficou tentando cochilar. Provavelmente ainda estava chapado. Boom, sacudi ele. Voltamos pra minha casa. Deitei ele no meu sofá. Ficamos acordados até o sol nascer. Fiquei do lado dele, sem deixá-lo dormir. E o tempo todo fiquei sentado pensando ‘Acabei de matar meu melhor amigo e trouxe ele de volta à vida’. Não, não sou um santo. Não sou santo, cara. Sou o rei dos mentirosos. Sou o rei da falsidade. É isso o que a heroína faz de você. É isso o que a droga faz de você. Cocaína, heroína,... o que quer que seja. Elas caminham de mãos dadas. Estão todas no mesmo barco, e esse barco afunda, porque está cheio de buracos. E essa foi a última vez que eu peguei a maldita agulha. E essa foi a última vez que eu tomei heroína”.
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